sábado, 30 de outubro de 2010

Ora chove ora chove ora chove...ora pára de chover.

Ora chove ora chove pouco ora não chove, mas já se sabe que sol nem vê-lo, só raramente ou em filmes, talvez na televisão quando dá uma reportagem sobre um país tipo destino de verão: o paraíso das lagostas inglesas em Agosto. Ora apitam as ambulâncias ora há trânsito ora o metro está parado, então as pessoas andam na rua como se de uma procissão estranha se tratasse, acho eu que não há tantos starbucks nem Mcdonald's em locais de romaria religiosa.
Mas se depois de um café maravilhoso, uma conversa que aconchega ou uma volta que nos abre os pulmões e os olhos, cai um monte de chuva em cima, surpresa surpresa, o chuveiro voltou a abrir-se, dos céus estão a cair milhares de biliões de gotas de água, indiscriminadamente sobre nós, quer tenhamos bebido um café, dado uma volta ou tenhamos apenas acabado de sair de casa, acendido um cigarro, ligado o iPod e acertado logo na música ideal para começar a caminhar.
Mas se a chuva molha, o céu nem sempre é negro, apesar de cinzento na maior parte das horas, o que nos diz que para lá do cinzento há qualquer coisa mais, aquela esperança que nos diz que ao chegar ao metro a linha certa na altura certa vai dizer "good service", que o metro está a chegar depois de descermos um conjunto de escadas que lembram a Torre de Londres em alguns dos seus dias mais épicos, os de corta-cabeças do Henrique VIII, por exemplo.
Assim sendo, estar aqui é o futuro embora seja também o presente, o que me obriga a pensar também nisso, hoje podia estar a tocar no coliseu do Porto, não estou porque estou em Londres, e só eu sei como é bom estar aqui, apesar das saudades começarem a rodear-me como predadores sexuais famintos, mas também, hoje especialmente apetecia-me ter estado naquele palco, não pelo palco mas pelas pessoas com quem lá estaria.
Oh bem, é hora de ir ouvir o álbum a solo do Carl Barât, que para quem não conhece...bem, devia conhecer.
E dormir.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ora algo profundo: pode ser o metro!

E se o metro não andar o que acontece?
Sai tudo à rua, como se fosse a festa do futebol mas aqui ao pé de casa, há gente em todo o lado, são para aí sete da noite, há sirenes e gente em todo o lado, serei eu o único que acha que isto não é normal e fico preocupado? Sim, porque toda gente está normalmente a fazer a sua vida, já sei já sei, isto é coisa de quem não está habituado totalmente à indiferença do que nos rodeia, que o Londrino possui em larga escala, não para o mal apenas mas também para o bem. Este tipo de coisas são as coisas com que não podemos andar a pensar, será terrorismo, será alguma coisa perigosa? Não é todos os dias que se vê uma das maiores estações de metro e comboio de Londres, encerrada, com milhares de pessoas na rua e sirenes a tocar de minuto a minuto, com o trânsito completamente parado. Bem, só era hora de toda gente começar a voltar para o trabalho ou a meio caminho de um pub qualquer, até mesmo que fosse o já famoso Flying Scotsman, casa de raparigas que dançam, situada aqui perto de casa, sempre colorido por personagens caricatos à sua porta, que bebendo a sua lager ou ale, fumando um cigarro, vão vendo as garotas dançar. Mas ao que interessa eu regresso, fosse o que fosse, consta que terá caído um senhor à linha, mas aqui nunca fiando, já que o metro anda nas bocas do mundo, consta que devido às avarias que aconteceram a semana passada, não dei por nada, só fiquei uma meia hora num túnel escuro com meia luz da carruagem a funcionar, a pensar que às vezes mudar de cidade é óptimo e mudar de vida também, mas há sempre um metro parado em algum lado que nos lembra do sítio que tão bem conhecemos.
Assim que se sai das estações é tudo tão diferente, há um frio agressivo que nos bate na cara, aliás que começa logo nas escadas, uma espécie de surpresa que nos espera depois do calorzinho agradável das estações do tube. E saindo há todo um mundo diferente, uma pessoa pode aperceber-se disso quando vem cá de visita, por mais vezes que venha cá, mas sair e caminhar por ali, não tendo uma data de volta para casa, sendo um Londrino (há muito ou pouco tempo), leva-nos pela multidão, a apertar os casacos, ajeitar os agasalhos e olhar em frente, com sorte há uma música que nos aquece também um pouco o espírito e assim matamos um bocadinho a saudade. Nem que seja realmente saudade, somente a falta das coisas habituais que se davam por garantidas, agora limitadas a poucas coisas (poucas agora) que se podem fazer para já.
Começou a dar um jogo da 2ª divisão inglesa na televisão,entretanto acho que o charlie sheen vai aparecer noutro canal qualquer, portanto se calhar vou tirar os headphones, desligar o willie nelson (a culpa é do anúncio da Mcdonald's que passa cá) e deitar-me, ver 20 minutos de charlie sheen e sonhar horas seguidas com algo totalmente diferente e bastante melhor; vamos a ver o quê.
Abraços e beijinhos

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Queres fulham ó broadway e outras coisas, tipo o frio!

A caminho de Fulham Broadway, que para quem não sabe, é a estação directamente adjacente ao estádio do Chelsea, sou interpelado por um cidadão no metro, que me acusa (não me pede) de estar a ouvir a música muito alta nos meus headphones, não que esteja necessariamente preocupado com a minha audição, essa nem eu estou para ser honesto, quando for completamente surdo haja quem me ature. Mas lembrei-me imediatamente de que aqui a maior parte das pessoas, talvez até os bandidolas que ocasionalmente aparecem, se comportam dentro do seu modo muito British, haja alguma classe e nível naquilo que se faz e como se faz. Ocorreram-me logo os "manos" no metro e ruas de Lisboa, com os seus sonoros manhosos a tocar aos altos berros no telemóvel, claramente a incomodar toda gente, mas aqui ninguém deixa isso passar em claro. Eu fui um desses "manos", mas em Londres, obviamente a ouvir música de jeito (ao menos isso) e fiquei envergonhado para ser sincero, devido ao raspanete assim meio súbito. Acontece que assim que pedi desculpa, o senhor me agradeceu e continuou a ler o seu livro, eu a ouvir a minha música e lá cheguei a Fulham Broadway.
Visitas turísticas à parte, fotos de turista, acho que já o disse não sei quantas vezes a toda gente que me conhece o suficiente para dizer que já recebeu um abraço forte meu, um beijo sentido ou um olhar sincero, Londres fascina-me, a cultura inglesa fascina-me, a forma british de se posicionar no mundo atrai-me e, estar aqui no meio deles, é como voltar a uma casa que nunca foi minha mas na qual reconheço algunas recantos.
Já me perdi, já me fascinei, valha-me deus se estou farto de ver miúdas loiras com ar de albufeira, perna à mostra e peito demasiado grande para a idade que parecem ter, já me ocorreu pensar se me ocorreria uma ideia melhor do que esta e já me ocorreu entretanto, que feitas as contas e o esperado desajuste inicial, estou aqui para ficar. Somos 15 milhões de habitantes nesta grande cidade, mais 1 que agora sou eu, para a frente e com força.
Até já descobri onde comer algo que se assemelha a merendas mistas, por sinal ao lado de um Burger King, que maravilha aquela massa folhadinha.
Prometo que da próxima vez que der notícias tento escrever algo mais interessante ou profundo, tipo, fossa das marianas.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Suitcase full of dreams

Londres - 3º Dia

A brincadeira começa sempre da mesma maneira, uma pessoa levanta-se e dormiu uma noite igual a qualquer outra, mas nem se apercebe que desta vez está a dormir numa cidade que não é do seu país, talvez pela facilidade de estar em casa de Portugueses e isso tornar tudo muito mais caseiro. Mas isso altera-se quando damos por nós, a tentar executar a simples tarefa de tomar um banho e raios nos partam se a torneira, ou algo que chamem aquilo, se mexe de alguma forma e começa a jorrar água. O meu olhar miserável, ensonado e a tentar perceber se estaria simplesmente a sonhar, fitando uma cabeça de chuveiro que fazia tudo (que era nada) menos o que era suposto, dar-me banho! Empurrei e puxei as peças metalizadas, desesperei, a figura de uma pessoa nua a tentar desesperadamente tomar banho enquanto se vai sentindo cada vez com mais frio é brutal, juro que pensei meter a cabeça no lavatório e dar ali banho à cabeça! Afinal de contas, era só rodar para a direita uma pequena peça e depois, a grande, para regular a temperatura; senti-me mais ridículo que nunca..até porque não o descobri sozinho, tive de enviar um sms ao dono da casa, que a esta hora se encontrava a caminho do trabalho, para me ajudar a conseguir tomar banho. Tão novo e já preciso de ajuda para tomar banho :P


A minha mala começa a irritar-me, primeiro porque paguei uma brutalidade de euros por excesso de bagagem, segundo porque as coisas que preciso estão sempre lá no fundo, a mala está pesada e é difícil de mexer, com sorte consigo uma lesão nas costas a tentar vestir-me. A senhora do aeroporto em Lisboa disse-me que me fez um desconto de 1 kg no excesso de peso da mala, juro que com mais 1 hora de tempo, lhe perguntava se queria beber um café, as chances de correr mal podiam ser grandes, mas daí a 2 horas estava a sair de Portugal por tempo indefinido, qual seria o mal?
Acho que o peso que está a mais na mala não são casacos, camisolas ou meias grossas, são sonhos que trouxe para realizar aqui, todos eles grandes e pesados, trouxe-os comigo porque isto agora é a minha vida. Ainda que, não custava ter trazido alguma sapiência na arte de abrir torneiras.
Fui ao consulado da tuga, aquele buliço do costume que se sente em terras portuguesas, aquele ar de quem vê uma fila e já se sabe que ali aquilo vai demorar mais, "olhe porque não se sabe a que horas é que estas coisas se despacham", "o melhor é vir o mais cedo possível de manhãzinha", "ah é psicólogo, veio tratar desta gente?!"...estes ao menos querem tratar-se. Dali saído, volta até Notting Hill Gate, encontrar-me com uma amiga de um amigo, psicóloga cá por sinal, portuguesa, uma simpatia de pessoa, conversa e um capuccino, o sol a raiar em Londres e pelas ruas de Notting Hill.
Para terminar, uma voltinha pelo British National Museum, com as suas exposições egípcias (foi onde eu me concentrei, foi a ver múmias) e como alguém me disse, isto não são coisas dos Brits, são coisas que eles roubaram! Ainda assim, um belo passeio, tenho de fazer também um pouco de turista, embora faça o que possa para passar despercebido, chego-me sempre à direita no metro e ando com ar de quem já cá anda há muitos anos, excepto quando tento encontrar uma rua ENORME e dou por mim a dar voltas aos mesmo quarteirão, sem parar :P Coisas à turista com uma mala cheia de sonhos, distraído e que anda por Londres, ainda de certeza com ar de sonhador, não acreditando muito bem que ainda seja verdade que já cá está.
Vou lanchar e descansar um pouco.
Ora abraços e beijinhos!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

De Partida

Será partir de facto, a melhor opção?
Escrevo isto a uns meros 4 dias de apanhar o avião, nesta semana de despedidas e abraços que se querem prolongados até Dezembro, pelo menos quero-os assim, largos e fortes, suficientes para me aguentar. Nem sei se há tempo para tudo o que quero fazer esta semana, tenho a desorganização de um psicótico em crise aguda, mas a vontade férrea de um obsessivo, em ir tentar o que já sonho tentar há muito tempo.
Não é altura de avaliar o risco da coisa, é altura de saber que vou até à minha cidade de eleição, fazer pela vida e lutar por algo melhor, com receio mas também com certeza da tentativa em curso; o misto da confusão é excepcional, diz-se que é em momentos de crise que se cresce e se anda para a frente, já atestei o espírito de vontade e sonhos, levo ben-u-rons para as dores de cabeça e casacos porque vai estar frio, penso que tudo correrá bem assim sendo.
Esperam-me pessoas amigas e pessoas que ainda não conheço sequer, esperando eu tanto mais de todo este mundo que agora se abre à minha frente, nunca imaginei que a independência pudesse vir sob a forma de sair do país de origem, o Portugal quentinho e cheio de recantos conhecidos, memórias e pessoas que me aconchegam, mas a vida dá destas voltas e tantas outras há-de dar, comigo no meio de preferência.
Deixo cá demasiado para falar de uma só vez, numas linhas de texto, quero abordar tudo isso lentamente e pacientemente, com a devida nostalgia que atacará um Português, Lisboeta, menino da cidade, perdido em Londres, cidade de peste, bombardeamentos e com história rica, num qualquer dia chuvoso ou a nevar. O futuro deixará tempo para escrever sobre todos e todas as coisas que cá deixo, com saudade.
A próxima vez que escrever aqui, será espero eu, já desde Londres. Se encontrar um raio de um conversor para as tomadas de electricidade dos bifes, claro.
Obviamente que partir é a melhor decisão possível e imaginária.
:)